terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sede de viver....
a canoa dos sonhos

Ubatuba sempre me causou fascínio pela exuberante beleza natural e pela proximidade de São Luiz, minha terra. Por conta disso, invariavelmente minhas férias escolares eram todas passadas por aqui. Meus pais, professores, gozavam de férias duas vezes ao ano. Em outro post abaixo neste blog, publiquei uma fotografia na qual mal me sustentava em pé e já me encontrava na praia do Perequê Açu, nos idos de 1957, em frente ao Rancho do Galo, nos braços de meu primo Osmar, em foto de outro primo Ozires – fotógrafo de mão cheia e que me iniciara em todas as artimanhas da vida.
Já mais velho, outro primo, o Osmildo, irmão dos outros dois primos citados, veio morar aqui para dar aulas. Alugou uma casinha na Vila Tamoio, próximo à travessa Taubaté, na continuição da rampa dos pescadores, ao lado do sobradão do Félix Guisard, hoje Fundart. Eu passei a ser hóspede constante da casa da tia Tiva (Nativa) em todas as minhas folgas, férias e fins de semana. Enfim, só não fixei residência. Em seguida, Osmildo se casou mas mesmo assim eu ainda os importunava.
Pela terceira vez, tento apoitar a canoa dos meus sonhos nas terras de Cunhabebe. Na primeira tentativa, em 1982, com pouco mais de 27 anos, jornalista profissional e já inclinado pela fotografia, vim para executar uma foto do então pré-candidato a prefeito Zizinho Vigneron. Os vínculos com ele vinham de São Luiz. Ele era casado com Regina, filha mais velha do casal Dona Cinira e Seo Elpídio, família que alimento grandes laços de admiração, carinho, amizade, respeito e sobretudo o vínculo com os Paranga, meus irmãos de caminhada.
Feito o retrato que seria usado nas peças publicitárias do Zizinho na corrida eleitoral a prefeito da cidade, Negão e eu realizávamos as primeiras experiências com o silk-screen (serigrafia), a Psilk, e de quebra oferecêramos nossos préstimos para auxiliar na campanha. Aceita a proposta, fixei residência em Ubatuba.
Durante o desenrolar da campanha, conheci pessoas que as considero até hoje. Uma delas o Jacob, que mais tarde se figuraria entre os maiores treinadores de surfe do Brasil, inclusive do Tales, meu filho caçula. Entre tantos outros.
Com o passar dos dias, acabei me desligando da campanha. Nesta época, de tantas recordações, eu transitava desembestado entre São Luiz, Ubatuba e Taubaté montado em uma MotoCross Yamaha AT-1, azul e prateada, motor dois tempos com 125 cilindradas, esfumaçante e escandalosamente barulhenta, uma legítima japonesa de 1972. Era uma verdadeira “cabrita”: quadro de uma, motor de outra e documento...quiça, nunca os vi.
Entre uma vinda e outra, me encontrava alojado em uma casa recém-construída pelo casal Zizinho e Regina, no bairro do Itaguá. Até então, um bairro ainda em formação. Saí de casa pela manhã e só retornei à noite. Só que a moto não era equipada com os básicos faróis e, incauto, cai em uma valeta aberta pela Companhia de Saneamento Básico (Sabesp). Na queda, fraturei a mão direita. Depois de medicado, fui direto à emissora de rádio, a Costa Azul AM, fazer queixa do ocorrido, pois não havia nenhum aviso da valeta e julguei que a empresa fora irresponsável pelo acidente.
Na redação, um funcionário me atendeu, era um argentino de nome Guilhermo Fowler, que mais tarde descobri era marido da cantora matogrossense Alzira Espíndola. Para colher meu depoimento, Guilhermo sugeriu que eu apresentasse a queixa por escrito. Não hesitei, à frente de uma Olivetti ..., tratei de apresentar meus argumentos. Quando entreguei-lhe o documento, ele leu-o atentamente. Deu alguns passos adiante, parou, tentou voltar, mas prosseguiu em direção à sala do diretor da emissora. Instantes depois retornou com uma proposta de emprego. “Precisamos de um repórter-redator, você gostaria de trabalhar al“na rádio” . Ato contínuo, estava sentando na sala do Góis, dono e gerente “da rádio”, discutindo as condições de trabalho. Giselda Goldfritz era a editora-chefe, Olivia de Carle , Paulo - que não me recordo o sobrenome – e eu formáramos a equipe de reportagem da poderosa Rádio Costa Azul. Antes das eleições, fizemos uma pesquisa de opinião. Foi uma experiência ímpar. Pois havíamos começado, sem nem se quer sabíamos como concluir. Tabulamos os questionários e chegamos a um resultado. Quatro candidatos disputavam o cargo de prefeito. Três eram da mesma legenda, o então MDB. Zizinho, o mais cotado; Lacerda, um esquerdista convicto e Pedro Paulo, o cavalo azarão. Era o terceiro da lista e que aparecia como líder em nossa pesquisa de opinião, exaustivamente divulgada dias antes das eleições.
O resultado da pesquisa causou um verdadeiro frison nos candidatos e provocou uma reviravolta no cenário político. Não deu outra. Pedro Paulo obtivera o maior número de votos e tornara-se o novo prefeito de Ubatuba, com direito a passeata pela cidade.
As coisas “na rádio” foram a cada dia se complicando. A Giselda se afastara da direção de jornalismo e fora cuidar da vida. Paulo recém-casado, mergulhador, artista plástico arguto, também abreviara sua carreira de repórter. Olivia se mantivera firme em seus propósitos.
Aliás, cabe aqui um parênteses dedicado à Olívia. Conheci-a ocasionalmente antes de nos encontrarmos “na rádio”. No dia em que vim fazer as fotos do Zizinho. Estava sem a moto, parada para manutenção, e me encontrava pedindo carona em frente ao aeroporto para chegar até a casa do Zizinho. Ela parou com seu fusca amarelo, todo carcomido pela ferrugem do litoral. Trocamos algumas palavras durante o breve percurso, que foram suficientes para amalgamar uma grande e verdadeira amizade. Quando saí da casa do Zizinho foi a Olívia que me abrigou e me suportou por um bom tempo. Tempo esse que conheci Pedro e João, filhos de Olívia, ainda bebês, que eu ajudara a cuidar. Hoje, também meus grandes amigos. Olívia me acolhera em sua casa, pois não queria morar sozinha. Fiquei um tempo na casa dela.
Acabei me indispondo com Guilhermo, “na rádio”. Me demiti e me aliei ao artista gráfico Rafa, exímio impressor serigráfico. Trabalhamos a marca Veste Leste. Produzíamos centenas de camisetar com a marca Ubatuba – Vento Leste, as quais tornaram-se referência da cidade. Sai da casa da Olívia e fui morar numa pensão furreca. Conheci os Rebuá, da Banda Tio Melius.
A esta altura já era pai da Carol, que nascera em abril de 1982. Tentei uma reaproximação com a Tininha, mãe da Carol. Convidei-a para passar um período em Ubatuba. Carol bebezinha ainda. Foi uma lástima. O tempo em que a Tininha e a Carol passaram em minha companhia, no quartinho da pensão, só choveu. Foi mais de uma semana seguida debaixo d´água. As fraudas não secavam e nem muito menos o restante da roupa. Foi o bastante para a Tininha retornar para a casa de sua mãe em Taubaté e nunca mais tentáramos uma nova aproximação.
Também fazia uns frilas para o jornal ValeParaibano, cobrindo umas história do Litoral Norte. Com os Rebuá conheci uma argentina lindíssima. Monica Weinberg, que mais tarde se formara também jornalista.
Logo em seguida às eleições, deixei “a rádio” e comecei uma sociedade com o Rafá, artista gráfico e impressor serigráfico. Ele já tinha umas idéias para desenvolver a oficina de silk e até mesmo possuía umas telas já com padrões de estampas em cromia. Embalamos na Vento Leste, nome da empresa dado pelo Rafa, que também tinha uma traneira com o mesmo nome. Estampamos e vendemos milhares de camisetas no durante todo o verão. Umas estampas lindas, principalmente a camisa de um veleiro em auto contraste, no fundo um sol em degradê compunha o horizonte. Outras estampas também me agradavam muito. Mas o que mais empolgava era mesmo as vendas. As camisetas eram campeãs. As encomendas não paravam de chegar. Até passar o verão. Nesta época, transitava com minha moto e minha câmera fotográfica Olympus, monoreflex, com um superflash. Um equipamento de primeira linha. Gostava muito dela até ser roubada na casa de um amigo, onde estava morando como caseiro, na praia Grande.
Passado o verão, o ritmo da vida em Ubatuba faltava pouco para parar de pulsar. Eu a mil por hora, decidi voltar com o jornal Correio da Terra em São Luiz. Deixei Ubatuba... em 1982.
Na canoa dos sonhos, embarquei em 83 para uma viagem ao Nordeste, com mala e cuia, casado com Maria Eugenia, paraibana, que conheci em São Luiz. No retorno, fixamos residência em São Paulo. Já era pai do Victor .... e em 1988, nos separamos. Vim morar em Ubatuba.
Trabalhava como redator técnico na Revista NEI (Noticiário de Equipamentos Industriais), frila à distância. O trabalho consistia em dar redação jornalística, com títulos em duas linhas e texto padrão com número de linhas contados. Usava os Correios para expedir o material para São Paulo. Com tempo livre, acabei indo para a direção de jornalismo da rádio Costa Azul. Morava no apartamento que meus pais comprara, no Edifício Ziara Maria, na avenida ao lado do Tom Bar.
Nas idas e vindas a São Paulo, para acertar com a editora, o Victor vinha para Ubatuba. Maria Eugênia vinha nos finais de semana e logo estava grávida. Nasceu o Ruy.
Nesta época, conheci um casal Nídia e Edmauro (Pedrinho), por intermédio de minha prima Maria Teresa, que tinha uma militância no Partido Verde internacional. Eu estava bastante ocupado com o trabalho e com a política. Surgiu a oportunidade de um concurso para trabalhar na Universidade de Taubaté, como professor auxiliar de rádio e telejornalismo e produção gráfica.
Conheci também as irmãs da Dolores, esposa do primo, professor Osmildo. Miriam, Juliana, Odisséia e depois Adriana, mais tarde.
Ubatuba ficou para trás mais uma vez. E desta vez por um período bem longo... voltara com a Maria Eugênia e mudamos para Taubaté, que iria me ocupar muito...trabalho...trabalho. Universidade de Taubaté, Folha de S.Paulo e depois o Sindicato dos Metalúrgicos. Isso já era 1994, quando o Tales nasceu, taubateano.
A vida seguia com os três meninos, mulher famíla, trabalho e lazer...nesta época mais ainda em Ubatuba. Até porque tinha a facilidade do apartamento de meus pais e a Colônia de Férias dos Metalúrgicos. A Colômbia como a chamava o Tales. “Vamos para a Colômbia, pai!”, dizia ele. O surf já ocupava seu ocupar na família. Foi na Colônia que compramos a primeira prancha de surfe para o Victor, na sequência consegui uma prancha emprestada de um amigo para o Ruy. O Tales começou a surfar mais cedo que os outros e ganhou a sua primeira prancha logo aos nove anos. As vindas para Ubatuba passaram a ser mais intensas. O tempo passou e em 2005, Victor nos deixou, passando da vida para o éter. Passado o abalo, decidimos comprar uma casa em Ubatuba e o passo seguinte foi mudar de mala e cuia, periquito e papagaio.
A família se acomodou em uma edícula de dois quadros e eu ainda teria que permanecer na estrada entre Taubaté e Ubatuba. Desde 2004, estava trabalhando na Prefeitura de Campos do Jordão. A Maria Eugênia havia trabalhado em Tremembé, onde alugamos uma casa para também ser o escritório e depois da vinda da famíla para Ubatuba, passei a morar em Tremembé. Na expectativa de vender a casa de Taubaté a qualquer momento e melhorar o padrão de vida em Ubatuba. Até agora não aconteceu e o casamento com Maria Eugenia chegara ao final, com uma separação judicial. Agora recomeço a construir minha vida. Morando sozinho em Ubatuba e trabalhando no Centro Universitário Módulo, em Caraguá, como técnico do Laboratório de Radio e Televisão, do curso de Comunicação Social.
A história continua...