quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

E tudo se perdeu....

Enchente em São Luís afoga
sonhos e destrói lembranças
É essa a sensação que ficou após certificar que não foi um pesadelo ver a torre do relógio da igreja matriz desabar sobre a piscina que se formou na praça.
Difícil aceitar este cenário de guerra que se transformou o centro de São Luís e sentir as aflições das pessoas, com olhares atônitos em busca de respostas que se esvaíram com a lama. A água sorveteu toda a frágil estrutura secular dos casarões e das igrejas construídas em taipa e pau a pique.
Ao ver o que sobrou do casarão onde passei grande parte de minha vida me causou um vazio na alma.
Outro dia, deixei meu carro estacionado na porta de minha casa em
Ubatuba e me furtaram um HD externa que continha arquivos de toda minha
vida. Fiquei chocado com a perda...quando tentava localizar uma foto
para ilustrar esta matéria, percebi que não mais trazia comigo o meus
arquivos. Foi uma lástima. E aí comecei a refletir sobre a dimensão das perdas e o que isso
poderia significar para as pessoas.
Minha mãe, aos 83 anos, colecionava algumas fotos que eram reminiscências, lembranças que foram subtraídas de sua vida. Perdeu-se a referência da vida...esse é o maior prejuízo. Não descarto a ideia de que as pessoas possam vir a adoecer e até morrer por isso...Banzo...os negros morriam de saudades nos porões dos navios.
O cenário arquitetônico de São Luis compunha um importante acervo cultural material que sedimentava manifestações imateriais como as festas religiosas e pagãs.Existem teses sobre a reconstrução da cidade.
Mas, enfim, questiono: será possível reconstruir as lembranças?