quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Eu, metalúrgico

Desde que me conheço por gente me vejo nas tarefas de desmontar e montar coisas, a começar pelos brinquedos: velocípedes, jipinho de pedal, bicicletas e assim por diante. Relógios, então, foram vários. Certa feita, minha mãe levou todos os relógios que não trabalhavam para o conserto. Depois de analisar um a um, o relojoeiro perguntou a ela se havia alguém em casa que estava estudando para se tornar relojoeiro também? Ela não hesitou na resposta, de pronto ela sabia exatamente quem era o autor da arte.
E assim foi minha vida, desmontando e nem sempre montando tudo que encontrava pela frente, a ponto de ser taxado pelo meu pai de destruidor. Ele dizia sempre, mesmo de forma carinhosa, que “em tudo que você toca, você destrói”. E até hoje ainda sou mais ou menos assim.
Quando acabei o curso ginasial, ainda em São Luiz do Paraitinga, decidi estudar no então Colégio da Escola de Engenharia de Taubaté, no curso de Máquinas e Motores. Era um curso concorrido e exigia um exame vestibulinho, devido a grande procura e pela qualidade do ensino. Passei na rabeira, mas consegui a tão sonhada vaga. Com isso, minha família mudou-se de São Luiz para Taubaté - essa é uma outra história que prometo contá-la em tempo.
Fui então levado ao mundo dos metalúrgicos. Operar tornos, plainas e aprender a leitura de instrumentos de precisão, conhecer e estudar os ensaios de dureza de material e controle de qualidade, com tolerâncias mínimas. Também me fascinava o desenho técnico, tanto a leitura quanto a sua execução.
Passado o período de estudo, fui para o mercado de trabalho. Naquela época, em 1974, o Brasil vivia o apogeu do “Milagre Econômico”. A região do Vale do Paraíba estava experimentando uma “bolha” de desenvolvimento, com a oferta de milhares de empregos na indústria metalúrgica.
Meu primeiro emprego, com carteira assinada, foi na Mecânica Pesada. Neste tempo, passei a morar com minha tia Fia, em Taubaté. Acordava muito cedo, ficava ainda de madrugadinha no ponto a espera do ônibus da fábrica. Estava iniciando uma rotina ainda desconhecida, pois minha vida até aqueles dias foi dedicada aos estudos, ao lazer e as outras coisas...
A Mecânica Pesada, hoje Alstom, era uma empresa de capital francês que atuava na construção de usinas hidrelétricas, equipamentos de convés e fábrica de motores de navio. Fui para o setor de construção de usinas hidrelétricas, no Departamento de Planejamento e Controle de Produção. Fazia apontamentos no controle de estoque no pátio das chapas de aço e com o ritmo da calderaria. Passava horas e horas medindo e conferindo as chapas de aço, embaixo dos enormes guindastes de eletroímã, que faziam as movimentações das chapas.
Entre as idas e vindas, da casa para a fábrica e nos fins de semana indo a São Luiz, encontrei um livro de crônicas que mudou o rumo minha vida profissional. De autoria do jornalista Roniwalter Jatobá (com a correção do professor Rui Grillo, havia postado anteriormente atribuindo a autoria do livro a outro jornalista Jorge Escosteguy), com título “Crônica da Vida Operária”, o livro foi premiado no concurso literário Casa das Américas, em Havana, Cuba.
O autor narrava episódios o drama dos operários em São Paulo, em meio à repressão do regime militar e as dificuldades da rotina do dia-a-dia. A partir desta leitura, comecei então a escrever algumas das minhas experiências de vida e percebi que podia fazer muito mais pelo meu País do que embalar a economia trabalhando como operário e aí tudo mudou.... Deixei a empresa para estudar Jornalismo.
Depois de muitas lutas no mercado profissional atuando como jornalista, acabei contratado como redator técnico de uma revista especializada na indústria, a NEI (Noticiário de Equipamentos Industriais), em São Paulo, exatamente pela minha formação técnica. Depois, fui trabalhar em uma empresa de engenharia, como redator de proposta técnicas para concorrências públicas na construção de usinas hidrelétricas, também pelos conhecimentos técnicos e profissionais, pela breve passagem na empresa Mecânica Pesada.
Mais tarde, já morando de volta de Taubaté, fui trabalhar no Sindicato dos Metalúrgicos e tive oportunidade e reatar um velho vínculo com a categoria metalúrgica. Hoje, sou free lancer na FEM-CUT (Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT-São Paulo). Eu, metalúrgico...

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