segunda-feira, 12 de maio de 2025
O TREM LEITEIRO
Em 1983, ao realizar um pesquisa sobre os 50 anos do cooperativismo leiteiro no Vale do Paraíba, a serviço da diretoria da Comevap (Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba) deparei com uma história muito interessante de organização, luta e perseverança.
Depois que os produtores de leite fundaram a Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo, em 1933, as cooperativas do Vale do Paraíba passaram a abastecer o mercado da capital, dando início à marca Leite Paulista. A produção diária era transportada por via férrea. A composição ficou conhecida por Trem Leiteiro, devido aos vagões-tanque destinados ao transporte do leite.
A operação era acompanhada de muitos ajustes de logística para que o trem não perdesse o horário de desembarque e assim a carga não fosse rejeitada e descartada, considerada imprópria para o consumo.
As empresas de laticínios que atuavam no região, tinham interesses que o leite fosse rejeitado, prejudicando assim as finanças das cooperativas e forçando os produtores a entregarem o leite para as usinas particulares e enterrando o sonho do cooperativismo leiteiro.
Para garantir que o Trem Leiteiro chegasse no horário, os produtores de leite e os diretores das cooperativas viajavam empuleirados na locomotiva.
Os cooperados suspeitavam que os funcionários da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) estavam sendo subornados para travar o trem durante o percurso e sabotavam os trilhos, atrasando o trem para que não chegasse no horários.
Diante das evidências, os cooperados se armaram de espingardas cartucheiras, garruchas e revólveres para garantir a segurança da viagem até a plataforma da Cooperativa Central de Laticínios, instalada no bairro do Brás, na capital paulista.
Nessa época, o Leite Paulista - principal produto da Cooperativa Central era distribuído nas tradicionais embalagens de vidro de um litro e entregues em domicílios e pontos comerciais.
Com o passar dos tempos, o Trem Leiteiro foi substituído por caminhões-tanque refrigerados, que garantiam a qualidade do leite.
As cooperativas passaram a produzir suas próprias marcas de leite e de produtos derivados do leite como leites UHT. Requeijão, Queijos,Flans, Leite Fermentado, Polpa, Iogurte, creme de leite, entre outros, surgindo as marcas Comevap, Cooper e Serramar, atuantes no mercado regional.
Em dezembro do 2000, a marca Paulista foi vendida para a Danone. Um importante passo na expansão de seus negócios no mercado brasileiro. Em 2010, foi comprada a marca de requeijão pela Parmalat e Leitbom que puderam vender o requeijão da marca Paulista.
Crédito: imagem foi criada por IA
Do carro de boi ao carro voador: a trajetória do desenvolvimento do Vale do Paraíba
O desenvolvimento econômico, social e urbano do Vale do Paraíba se deu em vários ciclos ao longo da história.
O Vale do Paraíba foi uma das primeiras regiões a ser desbravada e colonizada. Ainda no período no império, a região tornou-se um centro irradiador do bandeirantismo.
Com a descoberta do ouro nas terras de Minas Gerais e por ordem do então imperador português dom João VI, foram instaladas três Casas de Fundição de Ouro: Taubaté, Guaratinguetá e Paraty. Iniciando-se dessa forma, a primeira atividade metalúrgica na região.
Em 1702, o rei de Portugal decidiu pelo fechamento das unidades de Taubaté e Guaratinguetá, permanecendo apenas a unidade de Paraty.
O ciclo do Café sucedeu ao ciclo do Ouro, após o esgotamento das minas. A primeira grande região de cultivo do café foi o Vale do Paraíba, com o trabalho na lavoura utilizando-se da mão de obra escrava. Nesse tempo, iniciou-se a imigração de europeus, principalmente italianos que vieram trabalhar na lavoura, em substituição à mão de obra escrava, que conquistara a libertação.
O apogeu do ciclo do café trouxe à região um grande impulso para o desenvolvimento, com a construção de ferrovias e ao processo de urbanização.
A produção cafeeira prosperou e trouxe consigo o cultivo do Algodão e o início da indústrialização, com a primeira fábrica de tecidos, instalada em São Luiz do Paraitinga para a produção de sacarias.
Uma supersafra, com excesso de estoques e dificuldades de armazenamento, os produtores não suportaram o ‘Crash» da Bolsa de Valores dos EUA, dando início ao declínio do ciclo do café na bacia do Vale do Paraíba.
Com grandes extensões de terras cansadas e desvalorizadas, os Barões do Café venderam suas propriedades aos pecuaristas, que iniciaram a produção de leite, tornando-se o Vale do Paraíba a maior bacia leiteira do Estado de São Paulo.
Os Barões do café passaram a investir no desenvolvimento das cidades, o que deu grande impulso ao comércio e aos serviços.
Ao mesmo tempo, em que se dá o processo de industrialização com o fortalecimento do setor têxtil em Taubaté com a CTI, em São José, com a Tecelagem Parayba, e com a Cia. de Fiação e Tecelagem de Guaratinguetá.
Para alimentar a demanda energética, surgiram as usinas hidroelétricas, como a de Redenção da Serra, que alimentava a operação da CTI, em Taubaté, e ainda com o excedente, fornecia energia elétrica para as cidades de Redenção da Serra, Natividade da Serra, Taubaté, São Luiz e Ubatuba.
Posteriormente, na década de 70, foi construída a represa da CESP em Paraibuna, em substituição à usina da CTI. Em consequência, da expansão do lago da represa, as cidades de Redenção e Natividades foram reconstruídas.
Com a inauguração da rodovia Presidente Dutra e a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)em Volta Redonda, provocou um extraordinário desenvolvimento da indústria de transformação, notadamente nos municípios de São José dos Campos, Caçapava, Taubaté e Cruzeiro, com a instalação da Fábrica Nacional de Vagões (FNV), estatal criada por Getúlio Vargas, dedicada à produção de material rodante sobre trilhos
A indústria automobilística chegou à região com a instalação da GM em São José dos Campos e da Willys/Ford em Taubaté. Porteriormente, a Chery em Jacareí.
A indústria aeroespacial com a Embraer e de equipamentos bélicos como a Engesa e Avibras, teve grande avanço, assim como a indústria de telecomunicação, eletrônicos e de tecnologia, espalhadas ao longo da calha do Vale do Paraíba.
A região está preparando o grande salto para o futuro com a produção do carro voador, o evTOL, da Eve Air Mobilty, subsidiária da Embraer, instalada em Taubaté.
Atualmente, a região sofre com a desindustrialização. As indústrias automobilísticas, eletroeletrônicas e de telecomunicação ou encerraram suas atividades ou reduziram a produção e as exportações.
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